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Justiça paralela

Por Juliana Sayuri
[9/12/2021]

No fim de agosto, o historiador Carlos Zacarias recebeu uma correspondência inesperada em Salvador. Abriu o envelope pardo, com selo de Porto Alegre, e ao folhear a carta, surpreendeu-se: era uma notificação extrajudicial de 11 páginas que dizia que o acadêmico, professor de história na Universidade Federal da Bahia, a UFBA, tinha o prazo de sete dias para publicar um “texto-retratação” da produtora Brasil Paralelo – em anexo estava um modelo de “direito de resposta” de três páginas.

Zacarias havia publicado no dia 11 de julho um post no Facebook criticando a Brasil Paralelo como “um canal que produz ‘conteúdo’ de história de caráter revisionista/negacionista”. Assinada pelo advogado Felipe Menegotto Donadel, que representa a empresa, a notificação se baseou na lei 13.188, de 2015, que regulamenta o direito de resposta. Após consulta jurídica, o professor decidiu não publicar a retratação – ao contrário, fez um novo post para publicizar o caso. “Sou um intelectual público. Estudo partidos e movimentos de esquerda e, por necessidade, passei a estudar os de direita também. Estudava o fascismo por necessidade de compreender o antifascismo. Hoje, estudo o fascismo por necessidade de combater o fascismo”, me disse Zacarias, por Zoom.

“Não sou o único a sofrer uma tentativa de intimidação da parte da Brasil Paralelo. Tenho, próximo de mim, jovens estudantes que vêm sendo alvo de investidas da produtora, que deve dispor de muito dinheiro para mobilizar escritórios de advocacia para tentar impedir que pós-graduandos desenvolvam pesquisas e publiquem suas conclusões sobre o assunto pelas pós-graduações do Brasil”, ele escreveu na época. […]