Entrevista: ‘Imprensa mais apoiou do que se opôs à ditadura’, diz historiador
Para João Teófilo, mídia tenta ressignificar sua participação no regime relembrando a censura – mas foi crucial para o golpe e o autoritarismo
Por Juliana Sayuri
De Toyohashi (Japão)
(Para The Intercept Brasil – 17/7/2020)
As ameaças à liberdade de expressão e o autoritarismo do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro fizeram a imprensa se movimentar: hoje, os principais jornais se posicionam como defensores da democracia, relembram episódios de censura que sofreram durante a ditadura militar (1964-1985) e o papel que tiveram na campanha das Diretas Já (1983-1984). Mas há uma parte da história da qual ela prefere esquecer: seu papel no golpe de 1964 e na defesa do regime.
No livro “Nem tudo era censura”, lançado no ano passado, o historiador João Teófilo cruzou informações, depoimentos e documentos para contar a versão que a grande imprensa prefere fingir que não aconteceu. “Em vários estados, os principais jornais da época compuseram a aliança civil-militar que ajudou a implantar a ditadura. Foi notório o apoio dos jornais O Globo, Folha e Estadão, no sudeste; Zero Hora e
Correio do Povo, no sul; e O Povo, no nordeste”, ele me disse, em conversas por e-mail e por Zoom. “Mas a memória que essa imprensa construiu sobre si é bastante curiosa: além do silêncio sobre questões incômodas, o que marca essa memória é uma narrativa carregada de resistência, como se todos estivessem na oposição ao regime o tempo todo”. Não estavam. […]

FOTO: MEMÓRIAS REVELADAS/ARQUIVO NACIONAL
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