revista piauí

Duelo na internet

Por Juliana Sayuri
[17/11/2017]

No verão francês de 1983, dois anos depois da vitória do socialista François Mitterrand na disputa presidencial, o historiador Max Gallo publicou um artigo famoso no diário Le Monde criticando o momento de descompasso entre a esquerda e a intelligentsia francesa. Gallo criticava a esquerda, que por muitas décadas encarnara as esperanças dos intelectuais por uma transformação radical da sociedade, e estava então encastelada no poder. Na historiografia, o fenômeno ficou conhecido como “o silêncio dos intelectuais”.

No Brasil, por volta de 2005, diante das manchetes do mensalão, fenômeno similar se manifestou em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: apesar das denúncias de corrupção, muitos intelectuais de esquerda se abstiveram de críticas à realidade política da época. Em bom português, tornaram-se “chapa-branca”. Uns romperam com o PT, outros preferiram o silêncio diante do distanciamento da esquerda de seus ideais.

Mas, nos últimos tempos, há tudo, menos silêncio, à esquerda e à direita – e a toada da “corrupção” se tornou palavra-chave de muitas das querelas dos maîtres à penser, os mestres do pensamento, na expressão francesa. […]