Luxo lado B
Por Juliana Sayuri
De Riviera Nayarit, México
(Para O Estado de S. Paulo – 2/7/2013)
Abro os olhos, naturalmente pequenos, mas expressivamente menores após mais de dez horas de voo noturno. À espera no aeroporto Gustavo Diaz Ordáz, em Puerto Vallarta, um gentil senhor me oferece uma toalha úmida e aromatizada com eucalipto. Não poderia ser mais oportuno. É abril – e a temperatura beira os 31 graus na sombra. “Buenos días”, diz, “bienvenida a Mexico”.
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Voltada ao perfil AAA, a exclusiva riviera pretende oferecer férias glamourosas e arrojadas atrações em hotéis-butique e resorts cinco-estrelas, como festival de alta gastronomia regado a Moët & Chandon e campos de golfe, sempre privilegiando a privacidade de seus hóspedes. É o quarto maior investimento particular em turismo no país. E é essencialmente top, vip. Aos olhos de uma repórter mochileira – uma estranha no ninho -, um mundinho reservado a visionários e endinheirados. Para jet setters e aspirantes, o destino se traduz em uma palavra: luxo.
No entanto, mesmo para habitués da high society internacional, o lugar ainda é pouco conhecido. Atualmente, atrai celebridades como Justin Bieber, Kim Kardashian e Lady Gaga para breves temporadas, políticos mexicanos como o presidente-galã Enrique Peña Nieto, petroleiros canadenses, produtores californianos, jogadores de polo e golfistas. Muito Lacoste e Polo Ralph Lauren, na melhor definição do estilo esporte fino. Também pequenas trupes de asiáticos e famílias de americanos de bochechas rosadas.
Entrada livre. Desde 16 de maio, data em que passou a vigorar o acordo entre Brasil e México para extinguir a necessidade de visto para viagens de lazer, a Riviera Nayarit também mira os brasileiros. Mas a ideia, dizem, é preservar a exclusividade da região – e não transformá-la num itinerário pop como os atrativos mexicanos mais manjados, caso de Acapulco (gracias, Chaves), Cancún, Los Cabos e Riviera Maia.
Essa exclusividade se justifica por duas razões: financeiras, por supuesto – para se ter uma ideia, a suíte presidencial Coral, no Four Seasons, custa US$ 22 mil a diária, uma das mais caras do mundo -, e geográficas, devido aos caminhos tortuosos para aportar no balneário. É, portanto, um luxo AAA, mas lado B: exclusivíssimo, mas ainda alternativo.
Dito isso, finalmente faço o check-in numa suíte diamante (cerca de US$ 400 a diária) no resort Four Seasons Punta Mita (fourseasons.com/puntamita). No hall, uma frozen margarita de manga dá as boas-vindas a uma jornada que se marcaria por restaurantes, mestres tequileiros e chefs estrelados (desembarcamos no início da terceira edição do festival Punta Mita Gourmet & Golf Classic).
A temperatura cambaleia e logo se equilibra entre o sol forte e a brisa do Pacífico. Ainda para garantir o frescor ao ambiente, no Four Seasons e noutros resorts, há soluções paisagísticas como as palapas, construções mexicanas inspiradas na cultura filipina com telhado de palha seca e madeira de palma. Passarinhos chachalaca saltitam, muito à vontade, entre as mesas e piscinas infinitas, com alamedas decoradas por buganvílias cor-de-rosa, num design inspirado na ideia “México encontra a Provença”.
No lobby, enquanto um senhor dedilha Garota de Ipanema no piano, viro uma dose de tequila acompanhada por uma sangrita (suco de tomate temperado). Nessa atmosfera, a jornada pela Riviera Nayarit mostraria com quantos mimos se faz um México diferente.
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